
Validado por Sofia Santos

Sofia Santos
Especialista em Cosmética Natural, com experiência em controlo de qualidade, regulamentação e I&D.
Conhecer o Processo EditorialTabela de conteúdos
A cosmética natural tem conquistado cada vez mais adeptos que procuram alternativas mais seguras e sustentáveis para os seus cuidados de beleza diários. Nos últimos anos, esta crescente popularidade vai muito além de uma tendência, representa uma resposta genuína e informada às preocupações sobre os efeitos de determinados ingredientes sintéticos na pele e no ambiente.
Contudo, nos corredores das lojas, nos sites de compras e nas conversas entre amigos, ouve-se frequentemente falar em "cosmética natural" e "cosmética biológica" como se fossem sinónimos. A verdade é que estas categorias são distintas, e compreender as diferenças é fundamental para fazer escolhas realmente alinhadas com os seus valores e necessidades.
Quando se trata da nossa pele - o maior órgão do corpo humano - cada decisão que tomamos pode ter um impacto significativo no nosso bem-estar geral. Por isso, compreender o que realmente constitui a cosmética natural, biológica e convencional tornou-se essencial. Este guia prático desvenda o que realmente significa cada um destes termos e ajuda-o a navegar pelo mercado com confiança, identificando produtos autênticos e escolhendo aqueles que melhor se adequam ao seu bem-estar pessoal e responsabilidade ambiental.
A cosmética convencional constitui a maior fatia do mercado. É aquela que encontra nas grandes superfícies e nas farmácias e que provavelmente usa há anos sem questionar.
A cosmética convencional baseia-se, maioritariamente, em ingredientes sintéticos ou em matérias-primas derivadas da petroquímica . Isto não significa automaticamente que seja prejudicial, até porque muitas marcas investem em investigação dermatológica rigorosa e em testes de segurança exigidos pela regulamentação europeia. No entanto, o modelo produtivo centra-se essencialmente na eficácia, na consistência do produto, na estabilidade e durabilidade em prateleira, e no custo-benefício. Por esse motivo, a formulação tende a privilegiar ingredientes estáveis, amplamente testados, e que permitem produção em grande escala.
A questão central não é se a cosmética convencional é “segura” ou não, uma vez que todos os produtos estão obrigados a cumprir o rigoroso Regulamento Cosmético Europeu (CE) 1223/2009, que garante a sua segurança dentro dos limites estabelecidos. A verdadeira questão é se estes produtos se alinham com as suas prioridades pessoais, cutâneas e ambientais.
Para algumas pessoas — sobretudo com pele sensível, reativa ou comprometida — certos ingredientes sintéticos podem causar irritação ou sensibilização, sobretudo quando usados de forma repetida ao longo dos anos. Este fenómeno, conhecido como efeito cumulativo, não implica toxicidade imediata, mas refere-se ao impacto da exposição diária a múltiplos produtos que contêm fragrâncias sintéticas, conservantes ou derivados petroquímicos. Com o tempo, esta carga repetida pode contribuir para sensibilizações cutâneas.
Se o ambiente é uma preocupação, o impacto associado à extração e processamento petroquímico, bem como à menor biodegradabilidade de alguns ingredientes, também merece reflexão.
A cosmética natural marca um desvio significativo face às formulações predominantemente sintéticas. Aqui, fala-se de ingredientes que vêm da natureza — plantas, minerais, ceras e óleos — mantidos o mais próximo possível do seu estado original.
A cosmética natural utiliza componentes de origem vegetal, mineral ou animal, processados minimamente para garantir segurança e eficácia. Inclui extratos de plantas, óleos essenciais, manteigas vegetais e minerais que preservam as suas qualidades naturais. A diferença surge nos conservantes (sistemas conservantes mais suaves e, sempre que possível, de origem aprovada em cosmética natural), nas fragrâncias (óleos essenciais e hidrolatos em vez de moléculas sintetizadas em laboratório) e na filosofia geral da formulação.
Uma distinção crítica: cosmética natural não é obrigatoriamente biológica. Um óleo de rosa pode ser 100% natural, mas ter sido cultivado com pesticidas químicos convencionais. Um extrato de camomila pode ser natural, mas processado com solventes que não permitidos em certificação orgânica. A palavra "natural" refere-se à origem dos ingredientes, não ao processo de cultivo ou ao impacto ambiental. Esta distinção é fundamental — e é aquela que muitas marcas exploram, de forma intencional ou inadvertida.
O óleo de argão é rico em ácidos gordos essenciais e vitamina E, oferecendo hidratação profunda, sendo especialmente adequado para peles secas e danificadas. O óleo de jojoba, estruturalmente semelhante ao sebo natural, regula a produção de oleosidade, funcionando bem para peles mistas e oleosas. A manteiga de karité é um emoliente de elevada capacidade hidratante, particularmente benéfica para áreas secas como cotovelos e joelhos.
Para peles oleosas e com tendência acneica, a argila verde é extraordinária por ser capaz de absorver o excesso de oleosidade e promover a purificação dos poros em profundidade. Já a argila branca, mais suave, é ideal para peles sensíveis, oferecendo limpeza delicada e um notável efeito calmante.
O aloé vera é conhecido mundialmente pelas suas propriedades calmantes, hidratantes e cicatrizantes, ideal para queimaduras solares e irritações. O chá verde é rico em antioxidantes que combatem radicais livres, prevenindo envelhecimento precoce. A camomila e o extrato de rosa mosqueta oferecem propriedades regeneradoras, enquanto a aveia coloidal é particularmente valiosa para peles sensíveis ou sensibilizadas.
Estes ingredientes não são apenas "bonitos no rótulo", atuam com eficácia genuína, frequentemente de forma mais gradual e suave do que os ativos sintéticos, mas com resultados reais.
Artigo relacionado: O que se Aprende num Curso de Cosmética Natural?
Agora chegamos à cosmética biológica, também designada de orgânica. Aqui, entra em jogo não apenas a origem dos ingredientes, mas também todo o processo de cultivo, transformação e certificação.
A cosmética biológica é regulada por normas rígidas. Os ingredientes devem ser cultivados sem recurso a pesticidas sintéticos, herbicidas, fungicidas ou fertilizantes de síntese. Os processos de transformação devem respeitar critérios ambientais específicos, e a rastreabilidade deve ser documentada e verificável.
A diferença fundamental entre "natural" e "biológica" é que a biológica tem prova documental. Pode parecer um pormenor administrativo, mas é enorme. Significa que um verificador independente confirmou que as práticas foram realmente ecológicas. A cosmética natural pode basear-se na declaração da marca. A cosmética biológica deve provar.
A certificação biológica também protege o ambiente de formas que o rótulo "natural" não garante. Reduz poluição do solo, protege ecossistemas aquáticos, promove biodiversidade e incentiva práticas agrícolas sustentáveis.
Aqui é importante fazer uma pausa e dissipar alguns equívocos frequentes sobre cosmética natural. Compreender estes pormenores ajuda a tomar decisões verdadeiramente informadas.
Isto é uma falsidade comum. Alguns ingredientes naturais podem causar alergias, sensibilizações ou reações de fotossensibilização em determinadas pessoas. O facto de algo vir da natureza não o torna automaticamente seguro para a sua pele específica. Por exemplo, os óleos essenciais, embora naturais, são potentes e podem irritar se não forem adequadamente diluídos. A lavanda, admirada pela sua tranquilidade, pode desencadear reações em peles muito sensíveis.
É por isso que fazer um teste de contacto antes de usar um novo produto é sempre recomendável — coloque uma pequena quantidade no antebraço e aguarde 24 a 48 horas para observar eventuais reações.
Muitos consumidores acreditam que "natural" significa que o ingrediente é utilizado no seu estado absolutamente puro. A verdade é mais complexa. Muitos ingredientes naturais passam por processos de extração e purificação necessários para garantir segurança microbiológica, estabilidade e eficácia. Um óleo vegetal é prensado. Um extrato de planta é obtido por infusão ou destilado. Uma manteiga pode ser refinada. Estes processos não tornam o ingrediente "menos natural" — tornam-no seguro, estável e adequado para a formulação.
Não é tão simples. Depende dos seus objetivos pessoais e prioridades. Um sérum com vitamina C sintética (como o ácido ascórbico) pode oferecer resultados anti-envelhecimento mais rápidos e previsíveis do que um com extrato de rosa mosqueta. Ambas são escolhas válidas — a questão é o que procura, o que valoriza e como a sua pele responde.
Muitos têm eficácia comprovada, sim. Mas nem todos apresentam estudos clínicos extensivos — e isso é verdade tanto para produtos naturais como para produtos convencionais, já que a legislação europeia não exige ensaios clínicos de eficácia para nenhum tipo de cosmético.
A diferença está no facto de que algumas marcas convencionais e dermocosméticas investem mais frequentemente em estudos laboratoriais e ensaios de eficácia, enquanto muitas marcas naturais optam por uma abordagem mais simples, baseada em ingredientes tradicionais e evidência empírica. Isto não significa falta de eficácia — muitos produtos naturais oferecem excelentes resultados — apenas que a quantidade de dados clínicos pode ser mais limitada ou menos padronizada.
Além disso, a duração de armazenamento é frequentemente mais curta pois utilizam conservantes permitidos mais suaves ou sistemas antioxidantes naturais, o que reduz a estabilidade a longo prazo. Isto é importante: armazene os produtos adequadamente, respeite as datas de validade e reconheça que esta é uma característica própria da cosmética natural, não um defeito.
| Critério | Cosmética Convencional | Cosmética Natural | Cosmética Biológica |
| Ingredientes | Sintéticos ou petroquímicos | Naturais, de origem vegetal/mineral (podem ter origem convencional) | Naturais de agricultura biológica certificada |
| Certificação | Sem certificação obrigatória, apenas cumprimento legal | Sem certificação obrigatória, apenas cumprimento legal | Certificação obrigatória (Ecocert, COSMOS, etc.) |
| Pesticidas | Não aplicável ( ingredientes não são agrícolas) | Podem ter sido usados no cultivo | Proibidos completamente |
| Preço | Geralmente mais acessível | Intermediário | Frequentemente mais elevado |
| Impacto Ambiental | Variável, mas frequentemente mais elevado (produção petroquímica, menor biodegradabilidade) | Menor, mas não garantido | Reduzido e verificado |
| Tolerância Cutânea | Depende do produto | Frequentemente melhor para pele sensível (menos fragrâncias sintéticas, fórmulas mais simples) | Frequentemente excelente para pele sensível |
| Durabilidade | Longa (conservantes sintéticos) | Frequentemente mais curta (conservação mais suave) | Variável (conforme certificação e composição), mas frequentemente é mais curta |
Aqui é onde o cuidado se torna especialmente importante. O termo "natural" não é regulado em muitos países. Uma marca pode escrever "cosmética natural" no rótulo mesmo que apenas uma pequena percentagem dos ingredientes sejam realmente naturais. Isto é conhecido como "greenwashing", ou seja, usar linguagem ambiental ou natural para parecer mais consciente sem que a realidade corresponda.
Certificações a procurar:
Se o rótulo menciona alguma destas certificações, é um sinal positivo. Se não menciona nenhuma, mas afirma ser "natural" ou "biológica", é aconselhável verificar com atenção e espírito crítico.
Dicas para ler rótulos:
Cosmética Convencional:
Vantagens: Preço acessível, resultados frequentemente cientificamente comprovados, disponibilidade imediata, longa durabilidade, grande diversidade de ingredientes sintéticos que permitem texturas, sensorial e desempenho altamente consistentes
Desvantagens: Impacto ambiental significativo (produção petroquímica, menor biodegradabilidade), potencial sensibilidade em pele reativa, possibilidade de contribuição para exposição cumulativa a fragrâncias e conservantes sintéticos.
Cosmética Natural:
Vantagens: Menos aditivos artificiais, frequentemente melhor para pele sensível, menor impacto ambiental geral, fragrâncias naturais de óleos essenciais e extratos vegetais.
Desvantagens: Mesma regulação legal que a convencional, mas critérios de “natural” não são padronizados, risco de greenwashing, durabilidade reduzida (conservantes permitidos mais suaves), preço intermédio, resultados potencialmente mais graduais e menos padronizados.
Cosmética Biológica:
Vantagens: Certificação verificada, impacto ambiental reduzido, ausência garantida de pesticidas de síntese, frequentemente excelente para pele sensível, suporta práticas agrícolas sustentáveis.
Desvantagens: Preço mais elevado, disponibilidade mais limitada, durabilidade frequentemente mais curta (conservação mais suave), menor variedade de ingredientes e produtos comparativamente à convencional
A verdade é simples: conhecer a diferença entre cosmética natural, biológica e convencional permite-lhe tomar decisões alinhadas com os seus valores. Talvez para si a prioridade seja a eficácia cientificamente comprovada. Nesse caso, poderá optar por produtos (convencionais, naturais ou biológicos) que apresentem estudos de eficácia, seja através de ensaios clínicos, testes dermatológicos ou dados laboratoriais.
Veja também:
Não existe uma resposta "correta" universal. O que existe é a sua resposta, baseada em informação.
Quando compra, leia rótulos com atenção. Procure certificações. Questione marcas que utilizam linguagem vaga. Teste o que funciona com a sua pele. E lembre-se: uma marca que não oferece informação transparente sobre origem, composição e processos de fabrico pode não merecer a sua confiança, independentemente da forma como comunica “naturalidade” no rótulo.
O mercado de cosmética está a mudar. Os consumidores estão a exigir melhor. E as marcas que entendem esta evolução, que reconhecem que beleza genuína começa com consciência, são aquelas que merecem o seu investimento.